Cidades felizes, saudáveis e prósperas são ricas em cultura, mas a cultura não enriquece nem empodera todas as pessoas de igual modo.
Grupos populacionais ou áreas geográficas podem enfrentar barreiras no acesso à cultura; a oferta cultural existente pode não incluir histórias ou formas culturais que abranjam as populações atuais. Para enfrentar estes desafios, oito capitais europeias juntaram-se através do URBACT para formar a rede ACCESS, tendo-se comprometido cada cidade participante a trabalhar em conjunto para incluir mais pessoas através da cultura, bem como a adaptar a sua abordagem à formulação de políticas para que tal aconteça.
Amesterdão [NL], Dublin [IE], Lisboa [PT], Londres [UK], Sofia [BG], Tallinn [EE], Riga [LV] e Vilnius [LT] têm todas uma oferta cultural rica e vibrante, mas cada uma identificou desafios específicos que se lhe colocam no processo de tornar a oferta cultural mais inclusiva. Em Riga, por exemplo, 70% de todas as instituições culturais estão concentradas em apenas dois dos 58 bairros da cidade. No caso de Amesterdão, atualmente uma cidade "maioritariamente minoritária" (ou seja, a maioria da população provém de um grupo étnico minoritário), a cultura não se adaptou plenamente à mudança demográfica. Tallinn, por sua vez, identificou uma enorme lacuna na informação disponível, não dispondo de dados qualitativos que comprovem que a oferta cultural da cidade esteja realmente a satisfazer as necessidades das pessoas e a contribuir para o seu bem-estar. Neste contexto, cada cidade encontrou ressonância nos desafios das outras, tendo a rede coletivamente identificado três áreas de necessidades comuns: alargar a participação, distribuir a infraestrutura cultural de forma mais equitativa pela cidade e melhorar a recolha e utilização de dados em torno da participação cultural.
Identificaram também uma nova abordagem à formulação de políticas como um requisito crucial. Como disse Araf Ahmadali, Conselheiro Político Sénior para as Artes e Cultura da Cidade de Amesterdão: "Temos de começar por reconhecer que, como funcionários públicos, não sabemos todas as respostas; não estamos à cabeceira da mesa, fazemos parte da mesa". O trabalho de inclusão cultural deve ser genuinamente inclusivo: não cultura para todos, mas cultura com todos.
"Tudo o que fazemos é baseado no diálogo " refere Tracy Geraghty, da Dublin City Culture Company.
A discussão entre as cidades parceiras e as partes interessadas locais convidadas, na reunião de kick-off da rede ACCESS em Amsterdão, em setembro, identificou cinco aspetos essenciais para uma abordagem inclusiva no que respeita à elaboração de políticas culturais:
- Um diálogo contínuo: a discussão sobre a cultura na cidade deve ser contínua e não ocasional. Como explicou Tracy Geraghty, esta já é a pedra angular do modelo de desenvolvimento de programas "chá e conversa" da Dublin City Culture Company: "Tudo o que fazemos é baseado no diálogo; não fazemos nada sem termos falado primeiro com as comunidades que servimos."
- Ser aberto e acessível: facilitar o contacto entre as pessoas e as organizações.
- Ouvir e aprender: muitas pessoas e organizações têm experiência de como partilhar a cultura de uma forma mais ampla e estão dispostas a partilhar os seus conhecimentos.
- Reconsiderar o "centro" da cidade: se uma outra área fosse o centro da cidade, que oferta cultural seria espectável ver ali? De que instituições e apoios necessitaria?
- Desafiar as definições existentes: o que é talento? O que é qualidade? O que é cultura? Os decisores políticos devem estar abertos a novas e diferentes definições.
Cada cidade comprometeu-se assim a desenvolver esta abordagem na elaboração das suas respetivas políticas culturais.
A rede ACCESS continuará a colaborar e a partilhar ideias e práticas durante os próximos dois anos, à medida que cada cidade desenvolve o seu próprio Plano de Ação para a "cultura com todos", partilhando mais ideias sobre políticas e práticas da rede em blogues.
Etiqueta de homepage: Inclusão
Texto da autoria de Rebekah Polding, apresentado a 28 de janeiro de 2020