Podemos viver num mundo altamente conectado, mas a dinâmica urbano-rural nas cidades europeias indica uma desconexão crescente. Esta situação deu origem a exclusão social, disparidades económicas e desafios ambientais, afetando o bem-estar dos residentes nas zonas urbanas e rurais.
A Rede de Planeamento de Ação URBACT Beyond the Urban iniciou numa viagem de três anos para enfrentar os principais desafios à conectividade entre áreas rurais e urbanas. Este artigo partilha algumas ideias de uma série de visitas intensivas às regiões parceiras. Estas conclusões revelam os desafios comuns enfrentados pelas comunidades em toda a Europa, juntamente com recomendações e atualizações recentes das atividades da Rede.
Beyond the Urban: Ultrapassar o fosso urbano-rural
Para começar, Beyond the Urban inclui 10 cidades parceiras: Osona (ES) como parceiro líder e um consórcio de parceiros de Bram (FR), Bucareste (RO), Hradec Králové (CZ), Kočani (MK), Machico (PT), Szalbolcs 05 (HU), Santa Maria da Feira (PT), Tartu (EE) e Treviso (IT).
A Rede representa uma abordagem ousada e inovadora, desafiando as normas convencionais para criar uma Europa mais inteligente, mais ecológica e mais conectada. Cada região parceira tem algo a partilhar e a ensinar às outras sobre diversas opções de transporte para além do automóvel.
A Rede beneficiou de uma análise inicial exaustiva das ligações urbano-rural sustentáveis, baseada numa série de visitas intensivas a cidades dos parceiros da Rede. Algumas das minhas conclusões estão apresentadas abaixo, juntamente com algumas recomendações. Estas estão divididas em quatro temas para a mudança: (1) Jornada do cidadão, (2) Transportes intermodais, (3) Transportes para o turismo, (4) Cultura e comportamento.
Estabelecer uma base de referência
1. A jornada do cidadão
Em todos os 10 parceiros, a utilização dos transportes públicos (principalmente o autocarro) é difícil e não existe uma cultura de “carpooling” ou de partilha de automóveis. Municípios como Santa Maria da Feira (PT) ilustram a complexidade de alcançar o equilíbrio entre as necessidades de mobilidade regional e municipal. Vários dos parceiros debatem-se com baixa autosuficiência municipal, sublinhando a necessidade de enfrentar os desafios locais e regionais em matéria de transportes e destacando a necessidade de soluções diferenciadas.
As elevadas quotas de transporte em veículos privados, como se observa em Kočani (MK), por exemplo, sublinham a urgência em mudar para modos de transporte sustentáveis e alternativos. Esta mudança visa aliviar o congestionamento, reduzir o impacto ambiental e melhorar a mobilidade urbana global.
A baixa utilização dos transportes públicos, exemplificada por Osona (ES), com apenas 4,8% das viagens, sublinha o imperativo de incentivar e melhorar as opções de transporte público. Isto poderá envolver investimentos em infraestruturas, melhor conectividade e campanhas de sensibilização para mudar a perceção do público e encorajar uma transição para modos mais sustentáveis.
2. Transportes intermodais
Vários municípios debatem-se com o tráfego e o congestionamento de trânsito, o que realça a necessidade de sistemas de transporte intermodais bem coordenados. A importância de serem interfaces de transporte sublinha a necessidade de modos de transporte interligados. Isto implica transições perfeitas entre vários modos, como comboios, autocarros e bicicletas, aumentando a eficiência global da rede de transportes. A rede irá reunir-se em Bucareste, na Roménia, para analisar as potenciais soluções neste domínio, centrando-se na criação de sistemas de transporte bem coordenados e interligados. Com especial destaque para as particularidades das zonas rurais.
3. Transportes para o turismo
Desde Machico na Madeira (PT), onde 75% da população trabalha em serviços relacionados com o turismo, até às ambições de Szabolcs (HU) para o desenvolvimento do turismo a partir de uma base significativamente mais baixa, é evidente que o turismo desempenha um papel fundamental na configuração do panorama da mobilidade. Os municípios têm de equilibrar os benefícios do turismo, como o crescimento económico, com os desafios que este coloca às infraestruturas de transportes locais e à sustentabilidade ambiental. Locais como Treviso (IT), que está a liderar o caminho em termos de turismo sustentável e ativo, têm a oportunidade de partilhar as suas experiências com os outros parceiros.
Os municípios devem considerar a melhoria das infraestruturas, a gestão do tráfego e as opções de transporte sustentáveis para melhorar a experiência turística global, minimizando simultaneamente os impactos negativos na comunidade local.
4. Cultura e comportamento
A maioria dos municípios debate-se com a resistência aos modos de transporte alternativos. Para ultrapassar esta resistência, são necessárias campanhas de sensibilização específicas e iniciativas para educar a população sobre os benefícios dos transportes sustentáveis, como a redução do congestionamento, a melhoria da qualidade do ar, a redução da pegada de carbono e a poupança de custos individuais.
A aplicação de técnicas de mudança de comportamento é essencial nos locais onde são necessárias mudanças culturais. Isto pode envolver o incentivo à utilização dos transportes públicos, a promoção da partilha de automóveis e a criação de uma narrativa positiva em torno da mobilidade sustentável. Foi organizada uma reunião em Tartu (EE) especificamente para abordar este tópico, com o objetivo de melhorar as infraestruturas de transportes públicos e mudar as perceções do público para incentivar escolhas de transportes sustentáveis.
Os municípios devem também investir em programas educativos, na participação da comunidade e na melhoria das infraestruturas, para criar um ambiente em que os modos de transporte sustentáveis sejam não só aceites, mas também acolhidos como componentes integrais da vida quotidiana.
Reflexões internas sobre os dados para as políticas de mobilidade
Olhando para os parceiros da Rede, também identificámos a necessidade de novas formas de medir a mobilidade. Em março de 2024, a rede Beyond the Urban organizou um webinar sobre a utilização de dados para políticas de mobilidade. Liderado por um especialista, o webinar abordou este tópico de todos os ângulos; a possibilidade de acesso à informação e a necessidade de as instituições terem a capacidade de analisar e, posteriormente, tomar decisões informadas. Entre os participantes, foi partilhado o compromisso de melhorar a mobilidade urbano-rural testando e implementando soluções de mobilidade sustentáveis, acessíveis e integradas.
As conclusões são apresentadas neste artigo, mas os planos serão desenvolvidos em torno de outras áreas para além dos dados (ou seja, intermodalidade, governação multi-nível, inclusão e igualdade de género).
Ações de mobilidade sustentável: Agora e mais além
Embora os municípios da rede Beyond the Urban apresentem caraterísticas e necessidades muito diferentes, representam um esforço de colaboração e a promessa de uma mudança transformadora, promovendo um ecossistema de transportes sustentável e inclusivo para os próximos anos.
Desde a análise inicial, os parceiros da rede Beyond the Urban têm trabalhado diligentemente para melhorar as ligações urbano-rurais através dos quatro temas para a transformação da mobilidade sustentável. Já estamos a ver resultados. Bucareste (RO) assinou um estudo de viabilidade para uma nova linha ferroviária metropolitana com cerca de 32 quilómetros de comprimento e 11 paragens (abrangendo seis municípios e ligada à estação ferroviária da zona). Osona (ES) envolveu com sucesso o Governo Autónomo da Catalunha no seu Grupo Local URBACT, juntamente com o Conselho Provincial e a Autoridade de Transportes de Barcelona.
Em termos de envolvimento local, Machico (PT) recebeu 1 500 respostas de alunos de duas escolas municipais, o que ajudará a melhorar as relações com a Direção Regional dos Transportes e da Mobilidade Terrestre e outras partes interessadas. Outras iniciativas serão lançadas; para citar alguns exemplos, Treviso (IT) está a testar um novo sistema de estações de partilha de bicicletas e Bram (FR) está a avaliar os primeiros resultados da Política Nacional de Utilização da Bicicleta.
Fique atento a mais resultados previstos para 2025, juntamente com aprendizagens significativas que podem ser aplicadas noutros locais da Europa.
Mais informações sobre a rede Beyond the Urban
- Veja este vídeo sobre a Rede de Planeamento de Ação.
- Explore a página da Rede Beyond the Urban.
- Veja o webinar do perito publicado em junho de 2024.
- Leia o Estudo de Base do Perito Líder Dr. Clyde Hutchinson.
- Veja o artigo mais recente sobre o nudging comportamental no setor.
Obtenha informações especializadas de outras Redes URBACT de Planeamento de Ação aqui.
Traduzido e adaptado do artigo submetida por Clyde Hutchinson, Perito Líder da Rede URBACT Beyond the Urban em 26/09/2024, adaptado do original submetido em 05/12/2023.
